humanos gigantes
Na grande rede, todo dia, toda hora, minuto e segundo é momento para criação das mais diversas mentiras. No entanto, duas das mais recentes provam que se a mentira é infinita, a criatividade dos fraudadores, nem tanto.
Citando trechos bíblicos, circula pela rede uma mensagem sobre “Os Nefelins (achado arqueológico)”:
"E aconteceu que, como os homens começaram a multiplicar-se sobre a face da terra, e lhes nasceram filhas dos homens, viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram." Gênesis 6.4. "Os Emins dantes habitaram nela, um povo grande, e numeroso, e alto como os gigantes; também estes foram contados por gigantes, como os Anaquins; e os moabitas lhes chamam Emins." Deuteronômio 2.10-11 "Porque só Ogue, rei de Basã, ficou de resto dos gigantes; eis que o seu leito, um leito de ferro, não está porventura em Rabá dos filhos de Amon? De nove côvados [4 metros] o seu comprimento , e de quatro côvados [1,78 metros] a sua largura, pelo côvado de um homem." Deutoronômio 3.11 "Também vimos ali gigantes, filhos de Anaque, descendentes dos gigantes; e éramos aos vossos olhos como gafanhotos e assim também éramos aos seus olhos." Números 13.33 "Então saiu do arraial dos filisteus um homem guerreiro, cujo nome era Golias, de Gate, que tinha de altura seis côvados e um palmo [ 3,15 metros]." 1 Samuel 17.4
A Bíblia tinha razão. Será?”
Acompanha a mensagem uma série de imagens, como a que ilustra o topo desde texto, e outras:
A história e as imagens lembram muito o caso do esqueleto gigante que teria sido descoberto na Arábia, uma farsa circulando na rede desde o ano de 2004, e já devidamente esclarecida – tendo sido criada para um concurso de manipulação de imagens, a partir da imagem de uma ossada comum sobreposta à escavação dos restos de um mastodonte. Nada se cria, tudo se copia.
A nova lenda velha sobre Nefelins também tem origens similares. O sítio Snopes identifica a fonte usada na manipulação de uma das imagens, em verdade parte do esqueleto de um dinossauro fotografado em escavação na Nigéria em 1993, disponível no sítio da Universidade de Chicago. Abaixo, o original à esquerda, e a imagem manipulada à direita.
Note que as manipulações foram sutis, incluindo a inserção de um crânio gigante e o afinamento de alguns dos ossos – de dinossauro – que pareciam muito robustos para um ser humano. Curiosamente, isto revela um fato: ainda que existissem seres humanos gigantescos, é biológica e fisicamente impossível que seus ossos preservassem a proporção que vemos em esqueletos comuns sem que eles estivessem vulneráveis a fraturas constantes. Seriam incapazes de correr ou mesmo caminhar sem quebrar seus ossos.
O mais impressionante, no entanto, é que estas manipulações digitais não foram feitas pelo indivíduo que em algum ponto enviou a primeira mensagem unindo as imagens com o texto bíblico como se fossem reais. Este fraudador simplesmente copiou o trabalho do artista francês Seb Janiak, responsável por “The Orion Conspiracy”, uma excelente obra de ficção fazendo referência a extraterrestres, gigantes e muito mais que já comentamos aqui emCeticismoAberto há dois anos.
O curta-metragem completo pode ser visto abaixo.
E as imagens dos gigantes Nefilins? São todas, sem exceções, originais de Janiak e disponíveis desde 2008 no sítio oficial para promover o projeto. Que, repetimos, é claramente declarado como ficção.
Caso encerrado.
Lendas de gigantes circulando com imagens falsas, no entanto, não devem ter fim. Circula também, por exemplo, a imagem de um fêmur gigante exposto em um museu:
Resulta, no entanto, que o museu “Mt Blanco” em questão é um museu criacionista, que tem como objetivo “desenterrar os fatos de criação de Deus: um fóssil de cada vez”, e está atualmente anunciando a exibição de um “chupacabra”. Não transmite muita credibilidade.
E, o pequeno detalhe, é que mesmo este museu admite que o fêmur gigante que exibe é apenas “um modelo”, baseado meramente no relato de um homem que teria visto um fêmur gigante do Oriente Médio. Este é o tipo de “provas” com que lidamos aqui. E elas devem continuar circulando por aí.