Paradoxo da Profecia


“Se as pessoas definem uma situação como real, ela se torna real em suas consequências”. – W.I. Thomas

Segundo a lenda grega, Laio, o rei de Tebas havia sido alertado pelo Oráculo de Delfos que uma maldição iria se concretizar: seu próprio filho o mataria e que este filho se casaria com a própria mãe. Por tal motivo, ao nascer seu filho Édipo, Laio abandonou-o no monte Citerão pregando um prego em cada pé para tentar matá-lo. O menino foi recolhido mais tarde por um pastor e batizado como "Edipodos", o de "pés-furados", que foi adotado depois pelo rei de Corinto e voltou a Delfos.

Édipo consulta então o Oráculo que lhe dá a mesma previsão dada a Laio: que mataria seu pai e desposaria sua mãe. Achando se tratar de seus pais adotivos, foge de Corinto. No caminho, Édipo encontrou um homem e, sem saber que era o seu pai, brigou com ele e o matou, pois Laio o mandou sair de sua frente. Concretiza assim a previsão do Oráculo, que ainda iria lhe pregar outras peças, pois afinal, Édipo acaba se casando com a própria mãe.

Que a tragédia de Édipo não seria uma tragédia se o Oráculo de Delfos não tivesse feito sua previsão revela o paradoxo das profecias, ou pelo menos, das profecias que se fazem conhecidas. O dilema não se aplica apenas a supostas profecias sobrenaturais, ele se revela verdadeiro a qualquer previsão feita conhecida sobre o futuro. Em “John Barrow explora as implicações da questão a conceitos aparentemente tão diversos quanto o determinismo e a liberdade.

Mesmo o psicólogo britânico Richard Wiseman investigou a influência de profecias auto-realizadas. Ao pesquisar as diferenças psicológicas entre pessoas que se consideravam incrivelmente sortudas – ou azaradas – Wiseman descobriu que esperar ter sorte realmente aumenta as chances de obter melhores resultados. Não por algum mecanismo sobrenatural, mas simplesmente porque ao esperar mais oportunidades boas, uma pessoa se torna mais aberta a inúmeras oportunidades, sejam elas boas ou ruins. Os que se consideram azarados acabam diminuindo as possibilidades fortuitas, por temer que sempre lhe causem prejuízo, e com isso acabam bem menos propensos a serem beneficiados pela boa fortuna. Sortudos e azarados teriam outras diferenças na abordagem do acaso e de seu futuro, abordadas por Wiseman no livro “The Luck Factor”.

Uma cigana russa, no entanto, não teve tanta sorte. Em outubro de 2009 a suposta vidente teria lido o futuro de Gennady Osipovich, vaticinando que ele estaria fadado à maldição de uma “kazyonny dom”, gíria russa para cadeia. O que ela talvez não esperasse é que Osipovich, ao ouvir a profecia e buscando evitá-la – como Édipo – mas com uma lógica duvidosa, tenha decidido matar a vidente. Com a cigana morta a previsão não se concretizaria, parece ter raciocinado.

Osipovich esfaqueou a profeta e duas outras testemunhas presentes na cena. Apenas a cigana pôde escapar com vida. Na semana passada, Osipovich foi sentenciado a 22 anos em uma prisão de segurança máxima, como profetizado.

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